Powered By Blogger

sábado, 4 de setembro de 2010

Pão e Circo no Brasil


2010 é ano eleitoral. 2014 também. Mas, daqui a quatro anos, o Brasil deverá realizar a segunda Copa do Mundo da sua história. Muita gente transformou este fato, não obrigatoriamente em plataforma eleitoral, mas sim num feliz pretexto para levar vantagem, aproveitar a oportunidade, como manda o tradicional jeitinho brasileiro.

A palavra de ordem é investir em infraestrutura, construir estádios que não precisariam ser construidos desta forma, tirar proveito político e buscar fortalecimento junto as massas de apaixonados torcedores principalmente.

Em 2014, assim como está sendo em 2010, também teremos eleições para Presidente da República. Tem candidato tirando proveito das promessas feitas por outras personalidades nacionais.

Aproveito a ocasião para lembrar uma frase interessante, repetida pelo jornalista Milton Neves: "O futebol é a coisa mais importante, dentre as menos importantes, na vida deste país".

Panen et circenses

Panem et circenses é a forma acusativa da expressão latina panis et circenses, que significa "pão e jogos circenses", mais popularmente citada como pão e circo. Esta foi uma política criada pelos antigos romanos, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes.

Espetáculos da época, sangrentos, como os combates entre gladiadores, eram promovidos nos estádios para divertir a população; nesses estádios, pão era distribuído gratuitamente para as massas que frequentavam os estádios, as praças esportivas de então.
O custo desta política foi enorme, causando elevação de impostos e sufocando a economia do Império Romano.

A frase teria sua origem nas Sátiras de Juvenal, mais precisamente na décima (Sátira X, 77–81):

… iam pridem, ex quo suffragia nulli uendimus, effudit curas; nam qui dabat olim imperium, fasces, legiones, omnia, nunc se continet atque duas tantum res anxius optat, panem et circenses.

A Itália de Mussolini em 1934

Os regimes totalitários (não importa se de esquerda ou direita), que defendem e demonstram força como o Império Romano, se utilizam do apelo do esporte para condicionar a população. Já em 1934, Benito Mussolini vinculava a maior parte da propaganda de seu fascismo populista, ao sucesso da Squadra Azzurra na Copa do Mundo.

Atento, o líder italiano tratou de assumir todos os encargos para sediar o torneio, construindo estádios e dando subsídios aos jogadores da seleção nacional. Tudo porque o Estado Fascista percebeu a oportunidade de fortalecer ainda mais o seu regime através da popularização do futebol.

Imediatamente após a confirmação da realização do 2ºMundial de Futebol da História na Itália, Mussolini tratou de relacionar diretamente uma eventual conquista ao sucesso dos dez anos de regime fascista. Para a propaganda do Mundial, uma das imagens de cartazes, era a de um jogador com a bola no pé e a típica saudação fascista.

A política do pão e circo

Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fazia com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses”, a política do pão e circo. Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu) e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão). O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia (não pensava nas coisas mais importantes e também não se habituava em refletir) e se alimentava também esquecia os problemas e não pensava em rebelar-se. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano.

Esta situação ocorrida na Roma antiga é muito parecida com o Brasil atual. Aqui o crescimento urbano gerou, gera e continuará gerando problemas sociais. A quantidade de comunidades (também conhecidas como favelas) cresce desenfreadamente e a condição de vida da maioria da população é difícil. O nosso governo, tentando manter a população calma e evitar que as massas se rebelem, criou o “Bolsa Família”, entre outras bolsas, que engambela os economicamente desfavorecidos e deixa todos que recebem o agrado muito felizes e agradecidos. O motivo de dar dinheiro ao povo é o mesmo dos imperadores ao darem pão aos romanos. Enquanto rolam as maracutaias, filhas da pseudo-esperteza brasileira e nunca devidamente esclarecidas, o futebol distrai a população já satisfeita em receber as mensalidades gratuitas. Lembra-me até o antigo "voto de cabresto".

Estes programas sociais até fariam sentido se também fossem realizados investimentos reais na saúde, educação e qualificação da mão-de-obra, como cursos profissionalizantes e universidades gratuitas de qualidade para os jovens. Aquela velha frase “não se dá o peixe, se ensina a pescar” pode ser definida como princípio básico de desenvolvimento em qualquer sociedade. E ao invés dos circos romanos, dos gladiadores lutando no Coliseu, temos nossos estádios de futebol e seus times milionários. Geralmente os populares times de massa, de maior torcida.


O brasileiro é apaixonado por este esporte assim como os romanos iam em peso com suas melhores roupas assistir as lutas nos seus estádios. O efeito político também é o mesmo nas duas épocas: os problemas são esquecidos e só pensamos nos resultados das partidas. Imagine então, a força política de quem promete ou viabiliza a construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014?

A saída desta dependência é a educação, e as escolas existem em nosso país, mas há muito que melhorar. Os alunos deveriam sair do Ensino Médio com uma profissão ou com condições e oportunidades de cursar o nível superior gratuitamente, e assim garantir seu futuro e de seus descendentes. Proporcionar educação de qualidade é um dever do estado, é nosso direito, mas estamos acomodados e acostumados a ver estudantes de escolas públicas sem oportunidades de avançar em seus estudos, e consideramos o nível superior como algo para poucos e privilegiados (apenas 5% da população chega lá). Precisamos mudar nossos conceitos e ver que nunca é tarde para exigirmos nossos direitos.

Somente com educação e cultura, os brasileiros podem deixar de precisar de doações e assim, se desligar desse vínculo com o “pão e circo”, pois estes são os meios para reduzir a pobreza. Precisamos de governos que não se aproveitem das carências de seu povo para obter crescimento pessoal, e sim que deseje crescer em conjunto.

Infelizmente, a grande maioria não acompanha este raciocínio e prefere celebrar a realização da Copa do Mundo e a construção e reformas de grandes estádios. A possibilidade das empreiteiras e dos agentes intermediários faturarem alto, é muito maior! E o poder de lobby desta gente é fabuloso mesmo!

Portanto, não dá para contestar... É mesmo tempo de pão e circo no Brasil!

Um comentário:

  1. A Dilma vai ser eleita Presidente da República e infelizmente fará tudo o que os corintianos desejarem. É compromisso do Lula e do petista Andres Sanchez! O Brasil dos conchavos, continua!

    ResponderExcluir