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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Futebol em retrospectiva - Planicka: o amor esquecido

Lund de Castro Lobo dos Santos é meu sobrinho. Filho de médicos, de um santista fervoroso e de uma cirurgiã de tórax pra lá de dedicada (minha irmã, sempre muito querida), também é bastante apaixonado pelo bom futebol praticado em todos os tempos. Curiosamente, torce pelo Fluminense do Rio de Janeiro, o eterno clube das Laranjeiras. No texto abaixo, faz uma bonita homenagem ao craque Planicka, um dos maiores goleiros do período pré-guerra. Confira!

Texto de Lund de Castro Lobo dos Santos:

Muitos que lerem este título imaginarão que “amor” se refere ao amor que um homem sente por uma mulher, que inspirou grandes poetas através da história. Mas o amor em questão é o amor que alguém pode sentir por um ofício, e por uma pátria. Neste caso, o ofício é o do goleiro, e a pátria é a antiga Tchecoslováquia. Esta é a esquecida história de Frantisek Planicka.

O lendário arqueiro nasceu em Praga em 1904, naquela época localizada no Império Austro-Húngaro. No começo de sua carreira, jogou em alguns clubes pequenos da capital tcheca, lugar onde nasceu, e em 1923 entraria no clube para o qual jogaria nada menos que 969 partidas, o Slavia Praga, que até hoje é um dos principais clubes da República Tcheca, ao lado do Sparta Praga. Com seu clube, venceu 8 vezes a Liga Tcheca, além da Copa Mitropa (extinto campeonato com alguns clubes balcânicos e da Europa Central) de 1938, além de outros títulos.

Apesar de uma altura pouco convincente para um goleiro (1,73 metros), mostrava enorme agilidade e posicionamento, alem de incrível coragem e determinação. Era o capitão da Tchecoslováquia na maioria das partidas que jogou pela seleção, inclusive nas copas de 1934 e 1938. E acabaria por receber um apelido muito adequado: “O Gato de Praga”.

Na Copa de 1934, sediada na Itália sobre o comando do ditador fascista Benito Mussolini, Frantisek chegou à final contra os anfitriões. E nem o fato de ter em sua equipe uma verdadeira máquina de gols chamada Oldrich Nejedly (autor de 5 gols em 4 partidas em 1934) ajudou. Mesmo com uma atuação admirável, acabou levando 2 gols. O outro arqueiro no campo, o italiano Gianpiero Combi, levou apenas um. E adeus Copa do Mundo.

Porém, em 1938, quatro anos depois, um cruzamento com os anfitriões franceses sendo muito improvável e uma equipe ao nível de sua antecessora, sonhar com o título era realista. Após uma vitória relativamente tranquila por 3x0 sobre a Holanda, a Tchecoslováquia enfrentou o Brasil de Leônidas da Silva, em uma partida que, para a posterioridade, seria conhecido como “A Batalha de Bordeaux”.

Como o apelido indica, o encontro ficou célebre por causa da violência. Nem os latinos nem os europeus pouparam botinadas, em um jogo muito disputado e até certo ponto truncado, que não poderia ter muito outro resultado senão um 1x1. Porém, Planicka foi o destaque do encontro: fez diversas defesas difíceis. Admirável. Mas ainda há um detalhe.

No final do tempo regular, após um choque com o brasileiro Perácio (ou com a trave), o Gato de Praga quebrou o braço (ou descolou a clavícula, depende da fonte). Porém, as substituições em copas só seriam permitidas em 1970. Ele sabia que, se saísse, um colega de linha teria de entrar em seu lugar. E isso, quase com certeza, faria com que seu país sofresse uma goleada, fazendo com que a Tchecoslováquia saísse da Copa ainda nas quartas de final. Então, jogou a prorrogação de uma hora com o braço quebrado.

E não tomou nenhum gol. Obviamente, não pode jogar a partida-desempate contra o Brasil. Seu substituto levou dois. Mas sua seleção, em face à mentalidade defensiva do time brasileiro em campo, novamente marcou apenas um. Brasil 2x1 Tchecoslováquia.

Planicka morreria em 1996, considerado por muitos como o melhor goleiro do pré-guerra.





Lund de Castro Lobo dos Santos, especial para o "No campo de jogo".

Um comentário:

  1. Oi Lund seu primo Cláudio Irmão do Paulo. Adorei essa matéria, muito boam mesmo. Não conhecia esse mito. Parabéns!

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