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domingo, 7 de agosto de 2011

O Batismo de Fogo

O futebol é um esporte fantástico, emocionante mesmo, e sempre propicia um grande aprendizado de superações. No momento em que o futebol dito profissional, nos desgasta e entristece, mostrando a sua faceta repleta de negociatas e maus exemplos, é oportuno resgatar a experiência de meu sobrinho Lund, filho de minha irmã Ana Cristina, nas Olimpíadas Internas do Colégio "Dante Alighieri".

Um simples e autêntico exemplo de esportividade que contagiou seus colegas. Em uma das mais fantásticas partidas disputadas na edição do torneio deste ano, Lund (goleiro) parou o ataque adversário e demonstrou o quão gostosa, divertida e fascinante pode ser uma partida de futebol. Ofereço a narrativa também ao grande amigo jornalista, eterno padrinho, professor de várias ocasiões e também um goleiro pra lá de dedicado: Mauro Beting.

Lembrei de um jogaço da Copa da Aeda, nos já longínquos anos 80, em que o nosso time de futebol de salão, com apenas três jogadores esforçados na linha (inclusive eu mesmo) pôde contar com a estrela de um grande goleiro inspirado. Fator que realmente pode apontar toda a diferença, num dia de jogo difícil. Por isso, vale a pena acompanhar o texto do Lund. Bom entretenimento!

Texto de Lund de Castro Lobo dos Santos:

No dia 18 de maio de 2011, fiz meu primeiro jogo oficial como goleiro. Algo sem importância. Apenas um jogo de futsal, valendo por uma Olimpíada interna, sem o glamour de fotógrafos ou emissoras de televisão. Nada de estádio lotado, a partida foi realizada em um ginásio com, no máximo, 500 pessoas. Mas sem os momentos simples, o que seria da vida?

Entrei no jogo com uma camisa azul com o número “1” atrás, uma boina na cabeça e tal como Atlas, o mundo nas costas. Em quase todos os aspectos, à primeira vista, éramos um alvo fácil. Tínhamos jogadores mais baixos, menos fortes, e, no conjunto, menos habilidosos. Nosso humilde uniforme laranja, adquirido com enorme sacrifício, entrava em contraste com o uniforme preto, chique, feito sob medida para o lado oposto.

Qualquer um que batesse o olho, certamente diria que estávamos perdendo nosso tempo. E eu, como arqueiro, estava em um silencioso desespero. Sabia que o peso da derrota cairia sobre mim. Após o apito inicial, sabia que tudo estava em jogo. Este seria o meu batismo de goleiro.

Não muito tempo após o começo do jogo, que a bem da verdade estava um tanto truncado, apesar do equilíbrio, vi um chute rasteiro, de longo, entrar no meu canto direito. O mundo havia desabado. Começara o massacre. Sabia que eu precisava me manter frio, como todo bom goleiro.

Após um primeiro tempo sem muitos destaques, entramos no segundo tempo (ambos de 15 minutos). Bola alçada na área. Um atacante do outro time chuta de chapa, redondinha... E um vulto azul e preto entra no caminho da redonda, que vai para escanteio! Pensei que seria um mero consolo. Mas o futuro guardava-me surpresas...

A verdade foi essa: fui impiedosamente bombardeado. Bolas rasteiras, altas, de rebote, e, para meu espanto, o placar não se mexia! Fui segurando a meta, forçando contra ataques com meus longos tiros de meta, sem muito sucesso. Porém, um click: um contra-ataque iniciado por mim resultou em gol! Não há muitas palavras para descrever o acontecido. Mas uma delas, com certeza, é: inacreditável.
 
Claro, não apenas as minhas defesas, mas a atuação irretocável da minha zaga. Meus aguerridos companheiros de time repeliam bravamente cada contra ataque. Quase não atacamos. Mas nos defendemos como um time uruguaio. E claro, também, à sorte. Mas, pergunto eu: o que seria dos goleiros sem sorte?

Enfim, como as redes insistiram em não se estufar mais, a decisão foi para os pênaltis. Imediatamente tremi nas bases. Se no futebol, onde há 5 metros entre a bola e o gol, imagine no futsal, onde dificilmente há mais de 2? Eu pensei que seria impossível. Para mim, já estava acabado. A batalha terminara. Porém, a esperança é a última que morre.

Começam os segundos que definirão o jogo. Nosso time chutou, e o pênalti foi brilhantemente convertido com um balaço no ângulo esquerdo. Foi à cobrança do outro time. Procurei evocar o grande Lev Yashin, e durante 5 segundos, tive mais pensamentos do que tive em muitas horas. Era tudo ou nada. 8 ou 80. A cobrança foi na altura da minha coxa. Abaixei-me e espalmei a bola para cima. Com outro toque, evitei que a bola entrasse. O impossível ocorrera. Para mim, era como se desse um passo na lua, ou descobrisse a América. O ginásio explodiu em alegria, sensibilizado por meu desafio imposto aos antagonistas de meu time.

Após outras duas cobranças, conseguimos ganhar. Simplesmente inacreditável. Uma zebra com todas as listras que tem direito. Com a bola no pé e a vontade no coração, eliminamos um time que quase nos humilhou. Nada mal para um arqueiro estreante.

Imagens: Divulgação Colégio "Dante Alighieri"




Lund de Castro Lobo dos Santos, especial para o "No campo de jogo".